Palavra da Cá

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domingo, 6 de junho de 2010

Amigos

Para o poeta Ricardo Lima, o amigo querido Ricardinho
Meus amigos são poetas. Doces e meigos meninos, todos poetas, apesar do tempo. Apesar de terem caído em desgraça há tanto tempo.
Quem os vê assim, louros, pálidos, sorrindo paixões, escarafunchando o coração sem segredos, costuma apontá-los como loucos. Pois bem, meus amigos, meu mais terno tesouro, são loucos. Ensandecidos, remam pelos caminhos do espírito; e se abraçam, e filosofam, e gostam de cantar melodias francesas à sombra dos lampiões.
Mestres do amor e das palavras, seus corpos pulsam vida por todos os poros. Apaixonam-se, sempre, a cada minuto - por olhos, por causas, por mulheres bonitas, pelos homens do seu tempo.
Guardam, cada um a seu modo, um relógio próprio, com ponteiros que marcam minutos eternos, horas fugazes. Artistas do imponderável, articulam revoluções românticas e bebem muito.
Não trancam suas casas, nunca batem em suas mulheres nem possuem qualquer sentimento de posse que vá além das pequenas neuroses cotidianas. Apegam-se muito mais à estrutura de um verso ou à luz de um quadro do que às cotações da Bolsa - sobre as quais, aliás, nada entendem.
Passaram, todos esses meus amigos, pelos mesmos pedaços que cada homem percorre na vida. Tiveram a boca calada, choraram amores perdidos, sofreram a fome e a humilhação, as distâncias e os grandes encontros. Só não perderam o essencial - o caminho impresso em seus pés quando crianças.
Meus amigos continuam crianças.

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