Palavra da Cá

Este Blog quer partilhar textos literários e nem tanto com vocês.
Vamos trocar poesias, fragmentos e idéias.
Afinal, as palavras nos justificam, não é?

domingo, 6 de junho de 2010

Margaridas

A quantas anda aquele seu jardim de margaridas amarelas, quase selvagens? Aqueles canteiros que perscruto do outro lado da rua, com inveja, e que você finge não ver, esbarrando na folhagem seus teoremas e fórmulas matemáticas?
Há quanto tempo você o cultiva às escondidas, madrugada adentro, como um ladrão soturno, pensando que ninguém advinha?
Passeio por ali, às vezes, quando você se ausenta. Pressinto vestígios de afeto e mãos pacientes de jardineiro. Mas essas suas mãos eloqüentes não me falam de margaridas. Acompanho seus movimentos que desenham palavras no ar. São mudas. Cobiço, silenciosamente, seus dedos bem feitos de homem.
E eles não parecem apontar para o meu coração.
Ouso a ilusão de assaltar estes limites forjados em canteiros escondidos - ter suas mãos de margaridas se apossando desse meu desejo mudo, impublicável, adolescente.

Um comentário:

Anônimo disse...

Do beiral, o pombo novo perscrua horizonte. A liberdade assusta seu dom recente de alar-se (Kelena Kolody).
Seu texto tem a leveza dos haikais e o perfume das auroras.
Marlene de Souza

marlenedesouza67@gmail.com